Um levantamento realizado em 55 centros espíritas da cidade de São
Paulo, em 2014, aponta que, juntos, os atendimentos espirituais chegam a
cerca de 15 mil por semana (60 mil ao mês). "Este número é muito
superior ao atendimento mensal de hospitais como a Santa Casa, que
atende cerca de 30 mil pessoas, ou do Hospital das Clínicas, com cerca
de 20 mil atendimentos", destaca o médico psiquiatra Homero Pinto
Vallada Filho, professor do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de
Medicina da USP (FMUSP). A média relatada de atendimentos semanais em
cada instituição foi de 261 pessoas.
"Sabemos, por meio de
vários estudos, que a abordagem do tema religiosidade ou espiritualidade
exerce um efeito bastante positivo na saúde de muitos pacientes. Por
isso, podemos considerar a terapia complementar religiosa ou espiritual
como uma aliada dos serviços de saúde", revela, lembrando que,
geralmente, o paciente não tem o hábito de falar sobre suas crenças
religiosas e muito menos de contar que realiza tratamentos espirituais
em centros espíritas.
Vallada Filho foi o orientador da
dissertação de mestrado “Descrição da terapia complementar religiosa em
centros espíritas da cidade de São Paulo com ênfase na abordagem sobre
problemas de saúde mental”, de autoria da médica Alessandra Lamas
Granero Lucchetti, apresentada ao Instituto de Psiquiatria (IPq) do
Hospital das Clínicas (HC) da FMUSP em dezembro.
A ideia foi
mostrar a dimensão do trabalho realizado pelos centros, o grande número
de atendimentos prestados e os diferentes serviços oferecidos.
Observou-se também que apenas uma pequena minoria realiza cirurgias
espirituais, sendo todas sem cortes. Na segunda parte da dissertação, a
pesquisadora descreve passo a passo uma terapia complementar espiritual
para pacientes com depressão realizada na Federação Espírita do Estado
de São Paulo (Feesp).
*CCENTROS ESPÍRITAS
A autora
realizou um levantamento inicial de todos os centros espíritas da
capital paulista que possuíam site na internet contendo endereço de
contato. A médica chegou ao número de 504 instituições. Neste
levantamento, foram considerados apenas centros espíritas "kardecistas",
ou seja, aqueles que seguem a doutrina codificada pelo pedagogo francês
Hippolyte Leon Denizad Rivail, sob o pseudônimo de Allan Kardec, e que
tem como base as obras O Livro dos Espíritos (publicado na França em
1857), O Livro dos Médiuns (1861), O Evangelho Segundo o Espiritismo
(1864), O Céu e o Inferno (1865) e A Gênese (1868).
RESULTADOS
Entre
os resultados, foi observado que a maioria são centros já estabelecidos
e que têm mais de 25 anos de existência, sendo o mais velho funcionando
há 94 anos (Fundado em 1920) e o mais jovem com dois anos. Em
praticamente quase todos, os usuários são orientados a continuar com o
tratamento médico convencional, caso estejam fazendo algum, ou mesmo com
as medicações indicadas pelos médicos.
Os principais motivos
para a procura pelo centro foram os problemas de saúde: depressão
(45,1%), câncer (43,1%) e doenças em geral (33,3%). Também foram
relatados dependência química, abuso de substâncias e problemas de
relacionamento. Entre os tratamentos realizados, a prática mais presente
foi a desobsessão (92,7%) e a menos frequente foi a cirurgia
espiritual, (5,5%), sendo todas sem uso de cortes.
“Esse
levantamento procurou descrever as atividades realizadas nos centros
espíritas e salientar não só a grande importância social desempenhada
por eles, mas também a grande contribuição ao sistema de saúde como
coadjuvante na promoção de saúde, algo que a grande maioria das pessoas
desconhece", finaliza.
Por: Valéria Dias da Agência USP de Notícias
*Fonte:* https://noticias.uol.com.br/saude/ultimas-noticias/redacao/2014/03/06